Cena do Filme Bright Star |
sexta-feira, 29 de abril de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Série Ecos - No.10 - Meu Eco
IDENTIDADE
Ecos, ecos, ecos, ecos
caóticos reverberando
pelas paredes sombriasde um quarto obscurecidosouvenir, uma lembrança?uma memória imemorável
Dois braços estendidos
a espera de um corpo
que preencha o seu vazio
que a possua, que a tome
que lhe dê uma vida, alma
alma pura, uma vida nova
Olhos cerrados esperam
o nevoeiro denso, véu negro
o medo da imprevisível face
de um sonho ou pesadelo
a eterna incerteza, dúvida
Soma de todos os males,
todas as dores e enganosde uma efêmera existênciade desejo, volúpia, vício,ânsia desmedida de amarsem medo e consequência
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Viagem no tempo
Um cheiro. Passei por uma calçada e um cheiro me atingiu em cheio. Considerando que estou no Rio de Janeiro isso poderia ter sido algo terrível, mas não foi. Foi um perfume, o perfume de um flor tímida num arbusto raquítico no meio de uma calçada. Um pequeno jardim artificial em meio a bagunça urbana. Jasmim ou Camélia? Eu não sei. Prefiro camélia, a Dama das Camélias, quanto sofrimento... E lá estava ela, pequenina, ainda desabrochando. Parei, fiquei na ponta dos pés e inspirei o ar que a cercava, aroma divino. Lembrei de tantas outras camélias que cheirei, de todos os momentos e de todas as pessoas. As lágrimas chegaram e segui o meu caminho. Já sinto saudades dela, da camélia. E do perfume que me faz viajar no tempo.
Série Ecos - No.9 - Ecoando Drummond
BRINDE NO BANQUETE DAS MUSAS
Poesia, marulho e náusea,
poesia, canção suicida,
poesia, que recomeças
de outro mundo, noutra vida.
Deixaste-nos mais famintos,
poesia, comida estranha,
se nenhum pão te equivale:
a mosca deglute a aranha.
Poesia, sobre os princípios
e os vagos dons do universo:
em teu regaço incestuoso,
o belo câncer do verso.
Azul, em chama, o telúrio
reintegra a essência do poeta,
e o que é perdido se salva...
Poesia, morte secreta.
Carlos Drummond de Andrade, José & Outros
Editora Record
domingo, 24 de abril de 2011
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Série Ecos - No.8 - Ecoando Charles Baudelaire
A SERPENTE QUE DANÇA
Que eu te amo ver, lânguida amante,
Do corpo que excele
Como um tecido vacilante,
Transluzir a pele!
Sobre o teu cabelo profundo
De acre, perfumado,
mar odorante e vagabundo,
Moreno e azulado,
Como um navio que desponta,
Ao vento matutino
Em sonho minha alma se apronta,
Para um céu sem destino.
Nos teus olhos ninguém lobriga
Doçura ou martírio,
São jóias frias que são liga
De ouro e letargírio.
Ao ver teu corpo que balança,
Bela de exaustão,
Dir-se-ia serpente que dança
Em torno de um bastão.
Todos os ócios com certeza
Tua fronte movem
Que passeia com a moleza
De elefante jovem,
E o teu corpo se alonga e pende
Tal nave se mágoas,
Que as margens deixa e após estende
Suas vergas na água.
Onda crescida da fusão
De gelos frementes
Se a água de tua boca então
Alcança os teus dentes,
Bebo uma taça rubra e cheia
Muita amarga e calma,
Um líquido céu que semeia
Astros em minha alma!
Como um tecido vacilante,
Transluzir a pele!
Sobre o teu cabelo profundo
De acre, perfumado,
mar odorante e vagabundo,
Moreno e azulado,
Como um navio que desponta,
Ao vento matutino
Em sonho minha alma se apronta,
Para um céu sem destino.
Nos teus olhos ninguém lobriga
Doçura ou martírio,
São jóias frias que são liga
De ouro e letargírio.
Ao ver teu corpo que balança,
Bela de exaustão,
Dir-se-ia serpente que dança
Em torno de um bastão.
Todos os ócios com certeza
Tua fronte movem
Que passeia com a moleza
De elefante jovem,
E o teu corpo se alonga e pende
Tal nave se mágoas,
Que as margens deixa e após estende
Suas vergas na água.
Onda crescida da fusão
De gelos frementes
Se a água de tua boca então
Alcança os teus dentes,
Bebo uma taça rubra e cheia
Muita amarga e calma,
Um líquido céu que semeia
Astros em minha alma!
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Sobre montanhas e precipícios
Quando tristes, solitários, desesperados e por vezes suicidas, o que mais queremos é alguém que nos salve. Alguém que surja do nada, e que estenda o braço e nos tire do fundo desse precipício. Mas essa pessoa não vem, ela não existe. Mesmo assim aparecem outras pessoas, algumas delas ficam te olhando lá de cima e tentam de alguma maneira gritar coisas felizes para que você consiga se reerguer, mas o precipício é muito fundo, a felicidade se perde no ar. Existem aquelas pessoas que também estão lá no fundo com você, e elas são as únicas que te entendem. Por vezes, nós aqui no fundo ficamos de mãos dadas e isso gera algum conforto, pelo menos não estou só, pelo menos... até o instante em que segurar a mão do outro só vai te empurrar mais pra baixo. Então, soltamos as mãos e evitamos o mal, fazê-lo e sofrê-lo, evitar escorregar mais para o fundo. Eu fico em silêncio. Eu me escondo quando sei que não querem ver minhas lágrimas. Mas então, chega o dia em que a luz do sol inunda o fundo do precipício, e nesse dia uma força se apodera de mim e eu começo a escalar. Escalo, caminho e corro em direção ao topo da montanha. Eu grito, eu sorrio, eu gargalho, eu declamo poesias de amor... E todos pelo caminho querem segurar a minha mão, todos querem compartilhar desse momento e todos querem um pouco da minha força para subir até o topo da montanha. O meu erro é querer que também sejam felizes, porque cansa segurar aquelas mãos, mas mesmo assim eu as seguro. Em pouco tempo a minha força se esvai, não consigo manter os sorrisos, o meu e os deles. Sou fuzilada por olhos severos, olhos que não compreendem que me falta força e que eu vivo entre o fundo do precipício e o topo da montanha. Todos os meus dias.
No More Will de Augusto Peixoto |
domingo, 17 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Série Ecos - No.7 - Ecoando Pablo Neruda
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Um momento com Godard
Um dos meus filmes preferidos do Gordard é Band à Part (1964). Alguns não compreendem Godard, dizem que seus filmes são complicados e completamente sem pé nem cabeça. Eu confesso, nem eu compreendo Godard, principalmente a última fase dele, essa mais política, mas Band à Parte pertence a Nouvelle Vague, e dentre muitos filmes de diversos outros diretores que também participaram desse movimento, esse é um dos meus Top 5.
Todo mundo pelo menos uma vez na vida deveria assistir grandes filmes como À bout de souffle (1960) de Godard, Jules et Jim (1962) de François Truffaut, Les Amants (1958) e Le feu follet (1963) de Louis Malle, embora Malle seja considerado um rejeitado pela Nouvelle Vague por possuir um estilo diferente. Enfim, mesmo assim, foram filmes que revolucionaram uma época pela ousadia com que foram concebidos, pela abordagem de temas polêmicos e principalmente porque desnudaram a hipocrisia humana (minha humilde e pouco experiente opinião pessoal sobre cinema).
Hoje revendo Band à Part eu percebi o porquê do meu carinho por esse filme. Talvez mais um dos traços da minha identidade peculiarmente perturbada. Aliás, me desculpem pela aleatoriedade do blog, ele apenas reflete a minha persona e ultimamente estou sendo aconselhada a expor o que penso, sinto e sou de forma mais aberta. Então, na seguinte cena do filme eu percebi que eu sou cada um daqueles personagens, eu sou Odile, as vezes sou Franz e também Arthur. Eu entendo os dramas dos personagens porque consigo me colocar no lugar de cada um deles, consigo me ver sob suas peles. E além disso, essa cena é genial!
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Uma boneca
Eu sou uma boneca. Uma boneca muito rara de porcelana. Todos me olham e querem me ter em suas mãos. Por vezes eu pereço ser encantada, quase como se tivesse saído de um sonho, mas na verdade sou apenas uma simples boneca. Uma boneca frágil por natureza e que por isso merece cuidado, mas ainda assim uma boneca comum. Eu sou daquelas que chora quando você me balança em seus braços, basta me colocar de ponta cabeça e me puxar novamente que eu choro. O problema, o meu problema, é que eu não sou como todas as outras bonecas que choram, eu tenho um defeito. Eu não fui corretamente fabricada, o meu choro nem sempre funciona. Eu fico esperando que me tomem nas mãos e que me abracem, que me admirem e que brinquem comigo. Eu só quero que me deixem ser o que sou, uma boneca cujo propósito é fazer alguém feliz, mas o meu defeito me atrapalha. O meu defeito é que não choro quando supostamente deveria chorar, e outras vezes eu choro quando menos se espera. Por essa minha singularidade as pessoas tem medo de mim, pois elas não sabem o que pode acontecer se brincarem comigo e por isso eu fico jogada numa prateleira qualquer sendo apenas observada de longe. Observo o tempo passar e sinto crescer em mim essa ansiedade de fazer alguém sorrir, fazer alguém feliz, de ter alguém para amar e alguém que me ame. Eu amo o tempo inteiro, o tempo passa e continuo amando, continuo esperando que esse amor seja dado. Sinto o amor não dado me possuindo, me sufocando. O amor não dado é como um veneno. Estou sendo afogada nesse amor como se estivesse presa num rochedo com uma maré que não para de subir, o amor cresce em ondas que inundam o meu interior, ele invade tudo até me sufocar. Então, eu choro, eu choro o meu amor. Coloco todo esse amor em lágrimas o e despejo ao chão. Desperdiço todo o amor porque preciso respirar. Eu sou uma boneca, uma boneca que só quer brincar de amar.
Boneca Encantada |
Série Ecos - No.6 - Ecoando Fernando Pessoa
EU AMO TUDO O QUE FOI
EU AMO TUDO o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
domingo, 10 de abril de 2011
Seleção de Domingo: Radiohead
Os pensamentos voam alto quando ouço essa música...
If I could be who you wanted... all the time...
If I could be who you wanted... all the time...
Bem, Lotus Flower é impossível ser incorporado, mas mesmo assim digo é simplesmente genial! Para mim essa música é pura poesia. Enfim, mas não vamos ficar sem um terceiro vídeo... vamos ver se esse vai dar certo...
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Série Ecos - No.5 - Ecoando Caio Fernando Abreu
PRESS TO OPEN
Estavam ali as portas
janelas e varandas.
Estavam ali
na fronteira do olhar
onde o de dentro encontra
justamente
com o de fora.
Nesse ponto exato
elas estavam.
Bastava um gesto.
Mas o meu estar parado
era maior do que eu.
Estar parado/estar vivo:
a mesma incompreensão e medo
entre mim e aquele estar das coisas.
Estar ali
como nunca ter chegado.
Estar ali
como ter visto absolutamente tudo.
Estar ali
por estar ali.
E além de mim
o que eu não ousava.
Ah:
relembro a amplidão dessas varandas
os pequenos raios de luz
nos vidros coloridos das janelas.
Revejo a dura consistência da porta
cerrando seu segredo.
E me retomo ali
no imóvel do gesto que não fiz.
Como se pudesse agora
escancarar portas e janelas
para sair nu pelas varandas
desvairado e nu
- um profeta, um louco, um santo.
Sair para o vento, o sol, as tempestades,
as neves, as quedas de estrelas e Bastilhas,
o cheiro de jasmins entontecendo os quintais.
(Pudesse retomar manhãs, amigo,
manhãs perdidas como o que não fui.)
Mas continuo ali.
Aqueles espaços
permanecem tão mortos de mim
como um corpo que se ama
e não se toca.
Londres, 4.2.74
Caio Fernando Abreu
Caio 3D - O Essencial Da Década De 70, Editora Agir
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Série Ecos - No.4 - Ecoando Charles Bukowski
the best often die by their own hand
just to get away,
and those left behind
can never quite understand
why anybody
would ever want to
get away
from
them
Charles Bukowski
domingo, 3 de abril de 2011
tomber amoureux
Eu me sinto sempre a beira de um abismo, mas somente na beira. Sempre na dúvida, sempre insegura, sempre buscando um motivo ou razão para cair. Tudo o que eu mais queria era ter a certeza de que posso me jogar de vez, ter um motivo para fechar os olhos e cair... mas sem motivos, ou razões insanas, eu nunca caio.
Seleção de Domingo: Jesse J
A moça vai lançar seu primeiro CD no dia 12 de abril. Eu ouvi a primeira música dela faz um tempinho quando alguém me disse que ela era uma "nova Lady Gaga". A única coisa que pensei depois de ver o clip foi Wtf!!!!
A música seguinte ouvi num episódio de Saturday Night Live onde a moça em questão era a atração musical da noite. Pensei, Ok... não é ruim, mas... .
Por fim, achei isso aqui um tempinho depois...
Bem, agora eu gostei! Ela tem voz!!!
sábado, 2 de abril de 2011
Série Ecos - No.3 - Ecoando Cecília Meireles
SE EU FOSSE APENAS...
Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!
Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!
Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...
Antologia Poética - Cecília Meireles, Editora Nova Fronteira
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Pense nisso... ou não... a escolha é toda sua!
"I'm selfish, impatient and a little insecure. I make mistakes, I am out of control and at times hard to handle. But if you can't handle me at my worst, then you sure as hell don't deserve me at my best."
Marilyn Monroe
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