segunda-feira, 14 de maio de 2012

Eu não te amo pelas rosas, eu te amo pelos espinhos.


Eu não te amo porque te quero
eu te amo porque é preciso.




Eu não te amo pelas razões
eu te amo pelas inconseqüências.




Eu não te amo porque é certo
eu te amo porque tudo é incerto.


*Fotos por Laura Makabresku.

domingo, 6 de maio de 2012

Como queres ser

Aos teus olhos eu ainda sou a mesma praga
aquela que jurou ser tua por uma eternidade
mas não, eu não sou mais a mesma de antes.
Eu morri trezentos e sessenta e cinco vezes
e ressuscitei trezentos e sessenta e cinco vezes
em duas infindas existências de tormenta.
Se hoje tu ainda me tens como algo teu
tudo o que te pertence é somente poeira
pois o tempo se esvai como a mim mesma.
Eu mudei quando tu deixastes de me olhar
e tu, não mudastes nada, és tu, só mais triste
mais amargo, mais cruel, como queres ser.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Num café

Ela fugiu do barulho da rua entrando num café. Na verdade, este não era um café arbitrário, era um de seus novos cafés prediletos. Sim, novos porque ela estava de volta à cidade fazia pouco tempo. E um novo café é como uma folha em branco que pode ser preenchida com novas histórias, novas memórias. O café em questão só tinha uma memória até aquele momento, mas muito em breve teria outra muito importante.

Uma média com leite, um mil folhas e uma garrafa de água com gás, servidos no balcão. Ela tomou um gole do café fumegante, muito quente, mas muito bom. Um gole de água para limpar o palato e uma garfada no empilhado de folhas crocantes recheadas com creme e um detalhe de doce de leite. Ela era purista mas se rendeu à nova composição de sabores, não era um millefeuille afinal de contas, era um mil folhas.

Entre goles e garfadas ela olhava pela parede de vidro o movimento na rua. Ela se viu pensando nela mesma, na vida que estava mudando, tomando um rumo desgovernado, mas que a conduzia para um bom fim, um fim digno e aceitável. Não era um momento de grandes emoções, ela não se sentia feliz como deveria estar, mas também não se sentia triste, ela simplesmente não sentia. Tudo estava bem, tudo parecia bem.

Lá fora as pessoas aceleraram o passo por causa da chuva. Ali dentro ela recém havia terminado o café e o doce, só restava a água. E foi num gole de água que veio a onda. Ela sentiu uma onda dentro dela mesma, como se algo a preenchesse até transbordar. Ela sentiu a iminência do pranto ao ver as gotas de chuva manchando a calçada. Num átimo ela sentiu duas lágrimas gordas brotarem em seus olhos. E então, ela chorou.

Ela logo percebeu que alguns olhares pesavam sobre ela. Uma moça chorando em cima de uma pilha de migalhas com açúcar sempre chama atenção. Durante alguns minutos ela permaneceu de cabeça baixa, silenciosa, secando as lágrimas. Enfim, deu um suspiro profundo, um salto da cadeira, a conta paga no caixa e a rua. Ela olhou para o céu que se abria novamente, sentiu que ainda estava triste, mas achou graça daquilo tudo e sorriu.

Ela se pôs a caminhar e o sorriso em seu rosto foi aumentando, ela ria dela mesma. A tristeza ainda pesava em seu peito, mas ela estava feliz porque havia aprendido algo muito importante. Aquela tristeza brotava de dentro dela, mas era vazia, insensata, algo como um soluço que vem e que passa em dez segundos depois que a gente segura o ar. Nesse caso não bastaram dez segundos, nem dez minutos, mas ela sabia que em algum tempo bastaria.