terça-feira, 29 de novembro de 2011

O silêncio das coisas

Quando as cigarras cantam eu lembro do silêncio da minha infância. Naqueles fins de tarde com céu cor de laranja, quando eu me sentava no muro de casa e esperava a chegada do azul profundo da noite. A gente toda passava pela rua enquanto o céu ainda estava colorido, mas no instante em que as cores do dia morriam e o azul da noite nascia, a rua ficava vazia e tudo o que se ouvia era o canto das cigarras. Eu fechava os meus olhos e escutava os zumbidos até que eles se calassem. Aquele canto me acalentava até a chegada do silêncio da noite. E enfim, quando a noite chegava, eu me deitava perto da janela e ouvia o silêncio na brisa, nas folhas das árvores e nas ondas do mar quebrando ao longe...


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Poesia passageira - No.13

TRANSPARENTE

O que mais dói não é sentir
o que dói é ter que desistir de existir.
Eu não quero ser a chaga, a ferida,
a cicatriz que você não quer olhar.
Também não quero ser o fantasma
do qual de medo foge o teu olhar
ou pior, que desvia de indiferença
a minha insignificante transparência.
Um dia eu fui, mas agora não mais
você me disse e eu nunca esqueço:
Um dia sim, mas não mais.
Eu sinto e sofro, eu existo e sofro
eu sofro por desistir de ti, de mim...
Tantas foram as palavras ditas com pesar
que o meu coração está cansado de tentar.
Por tanto, por tão pouco, ou nada, desisto!
Só me resta viver na periferia do mundo
serei um alguém de um passado distante
só alguém que você costumava conhecer.
Afinal, é assim que tudo termina, não é?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

E lá vem o fim de ano...

O mês de novembro começou e a maldição natalina já espreitava pelo cantos. Agora o menor vislumbre de qualquer item natalino já desencadeia uma série de angústias de fim de ano, e assim começa a correria para dar conta de prazos, compras, festas, etc. Mais calmamente surgem as lembranças de tudo o que aconteceu no ano de 2011.

É agora que começa o balanço de 2011! E para ajudar nessa tarefa traiçoeira o meu BFF Max Reinert (Foi você quem disse, agora aguenta!) criou o Meme da Antigas, que é uma forma divertida de lembrar de tudo o que aconteceu no ano e também compartilhar os textos da retrospectiva com outros colegas que blogam, ou não, tá valendo tudo.


 
A proposta é publicar um post em todos os dias ímpares do mês de dezembro, sendo que cada dia tem uma temática diferente. Se também quiser brincar clica aí no selo do Meme das Antigas - Versão 2011 que o Max tem as regras todas explicadinhas no site dele. Regra? Claro que tem regra! Tá pensando que isso aqui é bagunça?!?! Vamos lá rápido que o ano tá terminando!!! ...Parece até que foi ontem que eu tava tomando a champagne de Ano Novo de 2011, e agora já tenho que pensar na de 2012...

sábado, 12 de novembro de 2011

A Ofélia de Shakespeare e suas Representações

Prólogo

Há algum tempo venho investigando a importância da personagem Ofélia da obra Hamlet de Shakespeare em diversos campos artísticos. Minha motivação surgiu do fato de que Ofélia nutriu o imaginário de diversos pintores e poetas da antiguidade e que, ainda hoje, continua a incitar o interesse de artistas atuais. Pretendo fazer uma breve exposição da trama da peça Hamlet para contextualizar minha análise pessoal e despretensiosa sobre a importância e significado de Ofélia na obra de Shakespeare. E em seguida apresentarei também algumas representações da personagem Ofélia na pintura, poesia e fotografia. Espero que apreciem este post singelo e costumeiramente aleatório.

A peça Hamlet é considerada a obra mais densa de Shakespeare, devido a intensidade dramática da trama e da profundidade de seus personagens. O personagem principal é, obviamente, o jovem príncipe Hamlet que recebe a visita do espírito de seu pai recém-falecido que vem lhe contar que foi assinado pelo seu próprio irmão, tio de Hamlet, o qual desposou sua mãe em menos de dois meses do falecimento de seu pai.

Irado pelas revelações da aparição de seu pai, Hamlet resolve criar um plano para desmascarar seu tio. E em seu processo de vingança Hamlet utiliza o artifício da loucura para por em prática o seu plano. Perante todos Hamlet foi tomado pela loucura e por isso seus atos insanos tornam-se aceitáveis por um certo tempo, pois justificam-se pela própria loucura.

Hamlet ora sofre, ora se regozija com sua loucura encenada. E ao mesmo tempo também brinca com a lucidez de todos que estão ao seu redor, como é o caso da personagem Ofélia. Hamlet em sua vingança fantasiada de loucura nega o amor de sua amada Ofélia e em uma outra cena trágica assassina o pai da jovem pensando que estava a matar sei tio.

Ofélia longe do irmão Laertes se vê rejeitada pelo seu grande amor e órfã em vista do assassinato de seu pai. A jovem que estava sendo atormentada a muito tempo pela loucura de Hamlet, por fim cai ela mesma na loucura, mas numa loucura real e corrosiva que a leva a perder totalmente o senso de realidade. Aqui entra um dos grandes paradoxos dessa obra. O quanto a loucura encenada de Hamlet levou Ofélia a cair em sua loucura fatal?

A jovem e bela Ofélia atormentada pela sua loucura é, enfim, levada a afogar-se num rio. Um afogamento acidental ou um suicídio? Essa é uma das mais interessantes discussões nesta obra de Shakespeare. A Rainha ao dar a notícia do falecimento de Ofélia ao seu irmão Laertes diz: "Acumulam-se as desgraças, e repetem-se com assustadora rapidez. Laerte, tua irmã suicidou-se, afogando-se.". Mas na narrativa que se segue a Rainha narra o acontecido e ali podemos notar uma leve atenuação dos fatos.

"Na margem da vizinha ribeira cresce um salgueiro, cuja prateada folhagem se reflete nas águas cristalinas. Tua irmã aproximou-se daquele sitio, sempre tecendo grinaldas de rainúnculos, ortigas, malmequeres, e dessas flores a que os nossos pastores dão um nome bem grosseiro, mas que as nossas castas donzelas denominam poeticamente "dedo da morte". Quando procurava ornar com as suas inocentes grinaldas as argênteas frondes do salgueiro, oh! desgraça! descuidosa foi envolvida na corrente, cercada dos ornatos que lhe serviam como de corôa virginal. Algum tempo suspensa pelas vestes sobre a corrente, assimilhava-se a uma sereia, cantando incoerentes trechos, inconsciente do próprio risco, como se estivesse no seu nativo elemento. Mas tudo tem um fim, e em breve, sossobrando pelo peso das encharcadas vestes, cessou de cantar, e tornou-se cadáver levado pela corrente." Fonte: Peça Hamlet de Shakespeare em Wikisouce

Ophelia by John Everett Millais

A personagem Ofélia é ao mesmo tempo secundária e fundamental à trama. O suicídio era um tema delicado a ser discutido devido a predominação da igreja católica na época, mas Shakespeare através da morte trágica e dúbia da doce e jovem Ofélia cria um espaço para uma discussão crítica porém sutil sobre o tema. Ironicamente, em minha opinião, o simples coveiro que está cavando a cova de Ofélia apresenta para o seu colega o raciocínio mais simples e direto sobre o tema:
"Ouve-me ainda; a água está aqui, o homem está acolá; muito bem, o homem vai encontrar a água e se afoga; forçosamente morre por seu motivo próprio; nota isto bem. Mas se, pelo contrario, é a água que vem encontrar o homem, e ele se afoga, então já não é ele que procura a morte; ergo, aquele que não é culpado na sua morte, não encurtou voluntariamente á vida."

Fora do contexto da obra de Shakespeare a personagem Ofélia foi ainda mais enaltecida, ela se transformou na imagem de uma ninfa das águas caudalosas de um rio rodeado por árvores e flores, uma bela jovem que foge de sua loucura entregando-se a um sono plácido enquanto permanece deitada num berço de águas. Ofélia representa uma alma atormentada que foge de si mesma entregando-se a um sono que a conduz ao esquecimento, a morte.

A seguir apresento um trecho do poema Ophelia de Arthur Rimbaud, considerado um dos mais belos poemas sobre esta personagem Shakespeariana:

Ophelia por Arthur Hughes
Morreste sim, menina que um rio carrega,
Ó pálida Ofélia, tão bela como a neve !
- É que algum vento montanhês da Noruega
Contou que a liberdade é rude, mas é leve;

-É que um sopro, liberta a cabeleira presa,
Em teu espírito estranhos sons fez nascer
E em teu coração logo ouviste a Natureza
No queixume da árvore e do anoitecer.

- É que a voz do mar furioso, tumulto impávido,
Rasgou teu seio de menina, humano e doce;
- E em manhã de abril, certo cavalheiro pálido,
Um belo e pobre louco, aos teus pés ajoelhou-se.

E aí o céu, o amor : - que sonho, que pobre louca !
Ante ele eras a neve, desmaiado à luz;
Visões estrangulavam-se a fala na boca,
O Infinito aterrava os teus olhos azuis !

O quadro de John Everett Millais é uma das mais famosas representações de Ofélia, mas no mesmo período Arthur Hughes, também participante da Irmandade Pré-Rafaelita juntamente com Millais, produziu diversos outros quadros representando suas versões de Ofélia.

Ophelia por Arthur Hughes

Ophelia por Arthur Hughes


Ophelia por Arthur Hughes


Agora vejamos alguns trabalhos fotográficos encontrados na internet sobre a personagem Ofélia. Tais fotos foram colecionadas ao longo de seis meses e muitas delas careciam de fontes, por isso colocarei apenas comentários em algumas delas.

A metáfora de Ofélia no filme Melancholia.

Versão de Ofélia na revista Vogue.

Obviamente, propaganda da Chanel.

Cena da série Desperate Romantics em que Millais pinta o quadro Ophelia.

Ofélia pela fotógrafa Elena Kalis.

Ofélia por Desirée Dolron.

Ofélia pelo fotógrafo Gregory Crewdson.






























Este é o fim, Ofélia foi minha companheira pelos últimos seis meses e agora passo para uma nova fase. Para quem tiver interesse eu ainda tenho muitas outras fotos de Ofélias e, se alguém estiver afim, também podemos trocar algumas ideias sobre o assunto. Levei muito tempo investigando e lendo, e muitas coisas acabaram sendo cortadas, afinal, quanto mais longo o post mais difícil é das pessoas o lerem (triste, mas é verdade), mas mesmo assim conservei algumas coisas na memória. Se quiserem, me escrevam. Até a próxima!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Poesia passageira - No.12

EU OBSCURO

Submerso
é o meu ser
nas profundezas
do mar sem fim
contido
dentro em mim
onde, ora navego
ora derivo
em meu âmago
(des)conhecido.