quinta-feira, 29 de abril de 2010

A beautiful sadness...

Hoje tudo parece mais difícil, impossível, conturbado, cansativo,... Eu não sei se é a chuva, o frio ou o efeito dos remédios que tomei na noite de ontem, mas o dia foi extremamente melancólico. E ao mesmo tempo fico angustiada com todas as urgências da vida, de repente a respiração fica sufocada, me sinto desesperada e muito cansada. Minha mente fica cheia e vazia ao mesmo tempo. Eu não sei como agir e acho que tudo está errado, me sinto um fracasso, me sinto triste.

Eu sei que essa tristeza é um efeito colateral de se estar viva. A única maneira de se sentir tão triste é ter sentido algo muito bom antes. Algo que agora é impossível sentir, mas que talvez, talvez um dia, voltemos a sentir. Por enquanto, eu estou triste, mas também feliz por estar tão triste. Estou feliz por ter minhas lembranças das coisas boas, e pela esperança de outras boas lembranças.

C'est la Vie!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Areia Movediça

Depois que algo acontece, é difícil colocar as coisas de volta do jeito que eram antes. Você pode até perdoar ou esquecer, mas no fundo sempre teremos a certeza de que nada mais será como antes. Com o tempo tudo volta como onda, e a única coisa que podemos fazer é cravar os pés no chão e não nos deixar derrubar por ela, e esperar. Esperar que a onda passe. O problema é que depois que ela se vai os seus pés ficam cada vez mais cravados no chão. Quem quer isso? Viver com os pés no chão, cada vez mais presa aos fantasmas do passado. Não, por isso nos desvencilhamos dessa areia movediça. Por mais que eu procure esquecer, as memórias estarão sempre me espreitando. Como um olhar, uma palavra, ou a lembrança do sol invadindo a escuridão do quarto...



Sables mouvants
Jacques Prevert

Démons et merveilles
Vents et marées
Au loin déjà la mer s'est retirée
Démons et merveilles
Vents et marées
Et toi
Comme une algue doucement carressée par le vent
Dans les sables du lit tu remues en rêvant
Démons et merveilles
Vents et marées
Au loin déjà la mer s'est retirée
Mais dans tes yeux entrouverts
Deux petites vagues sont restées
Démons et merveilles
Vents et marées
Deux petites vagues pour me noyer.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Moi, Je suis comme ça!!!

Depois de finalmente recuperar minhas noites de sono, eu acordei hoje cheia de energia, ou como digo "ligada no 220V". Milhares de idéias pipocando na cabeça. Uma ansiedade boa de fazer o dia render. Eu estou até feliz! Com o que? Sei lá. Em que isso me importa? Je suis comme je suis! E este é um poema que me foi dado pelo acaso, e nunca imaginei que me pudesse ver tão claramente impressa em palavras. Esta é a minha maldição, Je suis faite pour plair. Maldição? Sim, quando eu deixo as pessoas se aproximarem corro esse risco.

JE SUIS COMME JE SUIS

Jacques Prévert – (Né à Neuilly-sur-Seine)

Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Quand j’ai envie de rire
Oui je ris aux éclats
J’aime celui qui m'aime
Est-ce ma faute à moi
Si ce n’est pas le même
Que j’aime chaque fois
Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Que voulez-vous de plus
Que voulez-vous de moi

Je suis faite pour plaire
Et n’y puis rien changer
Mes talons sont trop hauts
Ma taille trop cambrée
Mes seins beaucoup trop durs
Et mes yeux trop cernés
Et puis après
Qu’est-ce que ça peut vous faire
Je suis comme je suis
Je plais à qui je plais
Qu’est-ce que ça peut vous faire

Ce qui m’est arrivé
Oui j’ai aimé quelqu’un
Oui quelqu’un m’a aimé
Comme les enfants qui s’aiment
Simplement savent aimer
Aimer aimer...
Pourquoi me questionner
Je suis là pour vous plaire
Et n’y puis rien changer.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Break Up

O fim marca
O recomeço
Do caminho
Do silêncio
E nada mais

O silêncio cúmplice
Da expectativa
O silêncio solitário
Da dúvida e do medo

O silêncio abismal
Da indiferença
O silêncio cortante
Da frieza e do rancor

O silêncio liberto
Da compreensão
O silêncio acalentador
Da rendição e do desamor

O fim marca
O término
Do caminho
Do silêncio
E nada mais.

P.S.: Esta noite sonhei com acontecimentos do passado, e eles trouxeram de volta os sentimentos de uma tarde fatídica. Tudo o que não consegui expressar em meses veio a tona como uma onda. Eu me sinto cansada e magoada como naquele dia. Mas um grande peso foi retirado dos meus ombros, porque eu sei que no fundo o silêncio foi um bálsamo, um alívio, para ambos.

sábado, 3 de abril de 2010

Durmo ou estou desperta?

ODE A UM ROUXINOL
John Keats
Tradução: Augusto de Campos

I
Meu peito dói; um sono insano sobre mim
Pesa, como se eu me tivesse intoxicado
De ópio ou veneno que eu sorvesse até o fim,
Há um só minuto, e após no Letes me abismado:
Não é porque eu aspire ao dom de tua sorte,
É do excesso de ser que aspiro em tua paz –
Quando, Dríade leve-alada em meio à flora,
Do harmonioso recorte
Das verdes árvores e sombras estivais,
Lanças ao ar a tua dádiva sonora.

II
Ah! um gole de vinho refrescado longamente
Na solidão do solo muito além do chão,
Sabendo a flor, a seiva verde e a relva quente,
Dança e Provença e sol queimando na canção!
Ah! uma taça de luz do Sul, plena e solar,
Da fonte de Hipocrene enrubescida e pura,
Com bolhas de rubis à beira rebordada
Nos lábios a brilhar,
Para eu saciar a sede até chegar ao nada
E contigo fugir para a floresta escura.

III
Fugir e dissolver-me, enfim, para esquecer
O que das folhas não aprenderás jamais:
A febre, o desengano e a pena de viver
Aqui, onde os mortais lamentam os mortais;
Onde o tremor move os cabelos já sem cor
E o jovem pálido e espectral se vê finar,
Onde pensar é já uma antevisão sombria
Da olhipesada dor,
Onde o Belo não pode erguer a luz do olhar
E o Amor estremecer por ele mais que um dia.

IV
Adeus! Adeus! Eu sigo em breve a tua via,
Não em carro de Baco e guarda de leopardos,
Antes, nas asas invisíveis da Poesia,
Vencendo a hesitação da mente e os seus retardos;
Já estou contigo! suave é a noite linda,
Logo a Rainha-Lua sobe ao trono e luz
Com a legião de suas Fadas estelares,
Mas aqui não há luz,
Salvo a que o céu por entre as brisas brinda
Em meio à sombra verde e ao musgo dos lugares.

V
Não posso ver as flores a meus pés se abrindo,
Nem o suave olor que desce das ramagens,
Mas no escuro odoroso eu sinto defluindo
Cada aroma que incensa as árvores selvagens,
A impregnar a grama e o bosque verde-gaio,
O alvo espinheiro e a madressilva dos pastores,
Violetas a viver sua breve estação;
E a princesa de maio,
A rosa-almíscar orvalhada de licores
Ao múrmuro zumbir das moscas do verão.

VI
Às escuras escuto; em mais de um dia adverso
Me enamorei, de meio-amor, da Morte calma,
Pedi-lhe docemente em meditado verso
Que dissolvesse no ar meu corpo e minha alma.
Agora, mais que nunca, é válido morrer,
Cessar, à meia-noite, sem nenhum ruído,
Enquanto exalas pelo ar tua alma plena
No êxtase do ser!
Teu som, enfim, se apagaria em meu ouvido
Para o teu réquiem transmudado em relva amena.

VII
Tu não nasceste para a morte, ave imortal!
Não te pisaram pés de ávidas gerações;
A voz que ouço cantar neste momento é igual
À que outrora encantou príncipes e aldeões:
Talvez a mesma voz com que foi consolado
O coração de Rute, quando, em meio ao pranto,
Ela colhia em terra alheia o alheio trigo;
Quem sabe o mesmo canto
Que abriu janelas encantandas ao perigo
Dos mares maus, em longes solos, desolado.

VIII
Desolado! a palavra soa como um dobre,
Tangendo-me de ti de volta à solidão!
Adeus! A fantasia é véu que não encobre
Tanto como se diz, duende da ilusão.
Adeus! Adeus! Teu salmo agora tristemente
Vai-se perder no campo, e além, no rio silente,
Nas faldas da montanha, até ser sepultado
Sob o vale deserto:
Foi só uma visão ou um sonho acordado?
A música se foi – durmo ou estou desperto?

Descobertas

Eu não tenho uma memória eidética, mas tenho uma memória peculiar. Cansei de cair na risada em momentos completamente inapropriados, ou desconectados do cenário, só porque lembrei de uma cena de Friends. As vezes uma simples palavra detona um circuito de conexões de imagens que levam a alguma lembrança bizarra, que geralmente está relacionada com minhas séries e filmes favoritos.

Essas detonações de memória geralmente se apresentam na forma de imagens bem vívidas. Podem ser cenas de um filme, ou série de TV, como eu já expliquei, ou pode também se apresentar como um acontecimento do passado. Eu nem sempre tenho acesso a essas memórias quando tenho vontade, elas precisam de gatilho para virem a tona na maioria da vezes.

Na noite passada a palavra “Estrela” fez detonar uma sucessão dessas imagens. Mas meu primeiro impulso foi correr para a janela e procurá-las lá céu. Há algum tempo eu percebi o quanto as estrelas me faziam falta. Tudo porque aqui no Rio de Janeiro as luzes da cidade são tão intensas que é quase impossível vê-las. Mesmo assim, ontem a noite elas estavam lá.

Olhando as estrelas, pontinhos luminosos na escuridão, eu me lembrei do dia em que descobri as estrelas no céu do Rio de Janeiro. Eu nunca as tinha visto até aquele dia. Eu acreditava que só em Florianópolis eu conseguia enxergá-las, mas naquela noite elas estavam lá pra me lembrar que aonde quer que eu esteja, eu nunca estarei sozinha. Hoje eu sempre vejo as estrelas no céu.

A segunda imagem foi de uma noite, não faz muito tempo, quando saí com amigos e fomos num barzinho em Santa Teresa. De repente alguém disse “Olhem as estrelas!”. Eu olhei para cima e vi um manto negro cravejado de estrelas brilhantes. A sensação de descobri-las sempre me surpreende. Eu sempre me sinto aquecida, meus olhos ficam marejados e é impossível não sorrir.

Cada dia é um novo dia. Pode ser um dia nublado, ou uma noite de escuridão. Um dia ensolarado, ou uma noite estrelada. Algumas noites nós simplesmente não conseguimos ver as estrelas. Ou por esquecer como olhá-las. Ou por medo de encarar a escuridão. Mas quando tivermos coragem de olhar, nós podemos descobrir que as coisas mais simples nos trazem felicidade plena, e que os momentos certos acontecem nas horas mais incertas.