quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os (de)feitos do Horário de Verão

Ela adormeceu tranqüila, no seu mundo digital, todos os relógios se ajustariam sozinhos. E eles se ajustaram. Ela acordou as 7h da manhã, sozinha. Claro, muito claro! Café. Adeus, mamãe! Silêncio. Sobe as cadeiras, sacode os tapetes, abre as janelas. O alarme toca e lá se vão as duas pílulas da manhã. Varre, varre, varre, pano, água cheirosa, torce, torce, passa pano, passa pano, passa! Banho! Corre de toalha para lá, para cá, passa creme, creme e mais creme, amarra o cabelo, grampos, secador, alisa, escova, escova, escova, escova sem parar. Arroz! Ela lembrou que esqueceu de fazer o arroz! Bota a água para ferver. Volta. Roupa... Já sei!, ela disse. O que num dia levaria uma hora de dúvida, hoje ela resolve tudo em um minuto. Jeans, óbvio! Camisa, sim, mas vermelha! O Arroz!!! Azeite, arroz, pó mágico, água, pronto! Roupa, ok. Espelho. Ui credo! Corretivo, pó, pó, pó,... cof, cof, cof. Sombra, lápis, rímel, coisa grudenta! Blush, blush. Pronto! Bem melhor! O arroz!!!! Tudo bem. Tudo bem. Almoço. Rua. No ponto de ônibus ela passou o batom vermelho. E lá vem o amarelinho! A porta se abre e a visão de um par de sapatos faz o coração dela pular. Musica calma, acalma. Ela precisava pensar claramente. Chegando, quase chegando. Ela anseia. Ela planeja, desisto ou não desisto... Ela pega na bolsa um de seus marcadores de livro. Ela se prepara para saltar no ponto. Ela estende a mão para o menino do banco do lado, oferece o marcador, levanta e sai. Ela, catatônica na calçada, esquece do mundo. O coração querendo sair pela boca. Os carros passando. Calor. As pessoas esbarrando nela. Frio. Ande! Ela foi. Tremedeira. Trabalho. Café. E-mail. Trabalho. Sorrisos. Parabéns para você! Ela fala, e muito. Ela faz rir. Ela ri. Muita tremedeira. Acelerada. Cabeça pesada. Como ela sorriu, como ela falou, mas como? Sim, ela falou. Ela sorriu, aquele mesmo sorriso das outras épocas, aquelas... sabe? Ela sorri para o garoto ao lado dela. Ela conversa. Ela faz o garoto sorrir. E como ela faz! E como? Ela pensa em todos eles, os sorrisos que provocou, e se pergunta. Como? Quem é você? Ela sabe. Ela sabe que saiu do eixo. Ela precisa voltar, com calma, mas precisa. Ela esqueceu que ela mesma precisava se ajustar também, assim como o horário de verão. Então ela fecha os olhos, respira fundo e se ajusta. Ela tenta... Mas no fundo só pensa... E qual será o fim do meu marcador de livros?


Ajuste-se!!!!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Advertência: A evocação contínua de memórias pode causar efeitos colaterais graves.


A distância entre a vivência e a realidade causa lacunas e dúvidas, impelindo o ser humano a sobrepô-las com "fatos". 

P.S.: A minha semana foi infernal. Mais uma vez eu cheguei ao meu limite. E mais uma vez eu pensei: Eu acho que vou morrer. Mas eu não morri, ainda estou aqui e a conclusão da semana foi que eu não fiz nenhum avanço, só retrocessos. Eu fiz tudo errado, enganei os outros a mim mesma no processo e ainda continuo pensar em como errar mais. Eu nem sei como explicar. Eu sou um erro, mas agora, nesse instante, isso não parece tão ruim. Ontem sim, mas hoje não. Eu ontem li essa frase num livro, enquanto esperava que o trânsito permitisse que o meu ônibus finalmente me tirasse da minha quinta feira dos infernos. Ela me fez pensar e esquecer por um segundo os meus erros. Desabafei. Fim.