domingo, 6 de fevereiro de 2011

10 Frases em 10 Filmes - No.10 - La Dolce Vita

A cena mais famosa de La Dolce Vita é definitivamente a da sequência na Fontana di Trevi. A personagem Sylvia é uma das criaturas mais inebriantes produzidas pelo cinema, é praticamente impossível não se encantar com tanta beleza e força. Toda e qualquer aparição dela no filme nos envolve de uma forma hipnótica, e é Sylvia que melhor caracteriza o paradoxo de La Dolce Vita. Uma mulher infantil, problemática e por vezes insana, mas que devido a sua beleza e quimérica perfeição, transforma-se no ser mais desejado por qualquer alma humana. As idiossincrasias dos homens, todos nós seres humanos, que vivemos numa busca insensata pela beleza, felicidade e equilíbrio, sendo que por natureza somos seres caóticos, insatisfeitos e potencialmente cruéis. 


No entanto, Sylvia é apenas um dos muitos fantasmas de La Dolce Vita, ela se vai silenciosamente e nos deixa com um sentimento de perda. Essa perda cresce no filme com cada uma das desventuras vividas pelo nosso anti-herói Marcello. Ironicamente, ao menos para mim, é que o personagem Steiner que seria o mais banal, ou mais "perfeito" ou utópico, é aquele que nos conduz à total escuridão dessa vasta perda. Irônico como a vida. E são das palavras de Steiner que derivo nossa última e derradeira frase:

La Dolce Vita di Steiner: "Qualche volta, la notte, quest'oscurità, questo silenzio, mi pesano. È la pace che mi fa paura. Temo la pace più di ogni altra cosa: mi sembra che sia soltanto un'apparenza, e nasconda l'inferno. Pensa a cosa vedranno i miei figli domani. Il mondo sarà meraviglioso, dicono. Ma da che punto di vista, se basta uno squillo di telefono ad annunciare la fine di tutto? Bisogna di vivere fuore dalle passione e altri sentimenti nell'armonia che c'è nell'opera d'arte reuscita, in quell'ordino incantato. Vodremmo reuscire al amarci tanto, da vivere fuore del tempo, distacati...distacati."

"Ás vezes, à noite, esta escuridão, este silêncio, me oprime. A paz me amedronta. Temo a paz acima de tudo: parece apenas uma aparência que oculta o inferno. Penso o que verão, amanhã, os meus filhos. Dizem que o mundo será maravilhoso. Mas como, se basta um telefonema anunciando o fim de tudo? Deveríamos nos libertar de paixões e sentimentos na harmonia da obra de arte realizada. Naquela ordem encantada. Conseguiríamos nos amar tanto e vivermos soltos além do tempo, soltos... soltos."

Após a morte de Steiner, Marcello é tragado por um vórtice de festas e orgias que mascaram o vazio de sua vida. No fim, o grande monstro é morto, Marcello é apenas uma sombra do que já foi, mas ao longe sempre existe a esperança. Bem, esse é o fim da minha viagem sem rumo por alguns dos meus filmes preferidos. Espero que aqueles que tenham me acompanhado tenham gostado. E obrigada pelos comentários! (Mesmo que poucos... mas os curtir no facebook também está valendo.)

3 comentários:

Anônimo disse...

É um dos filmes mais brilhantes e apaixonantes que já assistir. E me apaixono cada vez mais, e quando o assisto.
Federico conseguir captar a essência de uma vida sem ponto fixo. A critica a impressa foi fabulosa, sem perder, é claro, o romantismo.

Renata Becker disse...

Um dia perguntei a um amigo: O que você está fazendo? E ele me respondeu: Estou procurando caminhos. Eu rebati: E o que seriam caminhos? Ele disse: Um caminho é algo que te leva a um objetivo. Encontrá-los não é fácil, devemos procurar muito. Minha interpretação do dia é parecida com a sua, uma vida sem ponto fixo, uma vida sem caminho, perdida no vazio que existe entre eles.

Walkenes Lagares disse...

Oi Renata, obrigado pelo post. Estava procurando essa frase desse personagem maravilhoso de 'A Doce Vida' Steiner que representa a ruptura do que Marcello queria se agarrar, do modelo que tinha de felicidade, chegando até a invejá-lo. Esse trecho do filme, isso que ele fala é belíssimo. Obrigado!