quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sobre montanhas e precipícios

Quando tristes, solitários, desesperados e por vezes suicidas, o que mais queremos é alguém que nos salve. Alguém que surja do nada, e que estenda o braço e nos tire do fundo desse precipício. Mas essa pessoa não vem, ela não existe. Mesmo assim aparecem outras pessoas, algumas delas ficam te olhando lá de cima e tentam de alguma maneira gritar coisas felizes para que você consiga se reerguer, mas o precipício é muito fundo, a felicidade se perde no ar. Existem aquelas pessoas que também estão lá no fundo com você, e elas são as únicas que te entendem. Por vezes, nós aqui no fundo ficamos de mãos dadas e isso gera algum conforto, pelo menos não estou só, pelo menos... até o instante em que segurar a mão do outro só vai te empurrar mais pra baixo. Então, soltamos as mãos e evitamos o mal, fazê-lo e sofrê-lo, evitar escorregar mais para o fundo. Eu fico em silêncio. Eu me escondo quando sei que não querem ver minhas lágrimas. Mas então, chega o dia em que a luz do sol inunda o fundo do precipício, e nesse dia uma força se apodera de mim e eu começo a escalar. Escalo, caminho e corro em direção ao topo da montanha. Eu grito, eu sorrio, eu gargalho, eu declamo poesias de amor... E todos pelo caminho querem segurar a minha mão, todos querem compartilhar desse momento e todos querem um pouco da minha força para subir até o topo da montanha. O meu erro é querer que também sejam felizes, porque cansa segurar aquelas mãos, mas mesmo assim eu as seguro. Em pouco tempo a minha força se esvai, não consigo manter os sorrisos, o meu e os deles. Sou fuzilada por olhos severos, olhos que não compreendem que me falta força e que eu vivo entre o fundo do precipício e o topo da montanha. Todos os meus dias.

No More Will de Augusto Peixoto

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