sexta-feira, 8 de junho de 2012

Lençóis de seda

Uma cama nunca é só uma cama. Os lençóis nunca são só lençóis. O desejo nunca é só desejo. Eu entrei no quarto com paredes de veludo. Joguei a bolsa e o casaco na poltrona e tirei os sapatos. No móvel do canto encontrei uma jarra de cristal com vinho e algumas taças. Eu escolhi uma taça e me servi. Sedenta, bebi tudo de uma vez. A segunda taça eu bebi com mais calma, enquanto andava pelo quarto tocando as paredes com a ponta dos dedos. A terceira taça eu saboreei sentindo a brisa da noite na janela. Olhei o relógio e o meu coração acelerou. O último gole. Juntei a minha taça as outras e me sentei na cama com lençóis de seda. Senti o calor do vinho se espalhando por todo o meu corpo.

Ele entrou e chaveou a porta. Ele me deu aquele olhar que sempre me fazia tremer. E como sempre o mesmo sorriso provocador. Ele se serviu de um pouco de vinho. Mais uma taça junto as outras. Nenhuma palavra, nunca. Eu me deitei na cama com lençóis de seda. Ele se deitou na cama com lençóis de seda. Os corpos nunca foram nossos, nunca nossos, sempre foram só de um ou do outro. Culpamos o desejo, seja lá qual fosse, de quem fosse, pelos lençóis manchados e amarrotados. O prazer de um nunca é o mesmo que o do outro, o prazer de cada um é sagrado, é santo.

Eu me vestia na frente do espelho e sabia que ele me olhava. Ele se aproximou por trás e colocou as mãos nos meus ombros. Eu não conseguia abrir os olhos. Eu queria vê-lo, mas eu não conseguia abrir os olhos. Ele cheirou o meu cabelo e me beijou no pescoço. Então, ele se soltou de mim e foi em direção a porta. Eu abri os olhos e me vi no espelho. Eu me virei e sufoquei, não consegui falar. Ele me olhou por uns segundos e desviou o olhar. Eu senti as lágrimas vindo e fechei os olhos. Eu esperei que ele se fosse. "Eu sei. Eu também." ele disse com uma voz suave. Eu abri os olhos e ele já não estava mais lá. Só me restou o silêncio e os vestígios de nós dois.

Foto por Robert Doisneau.

Nenhum comentário: