domingo, 10 de outubro de 2010

Bilhete

Fiquei te olhando enquanto você dormia naquela última noite. Eu queria te guardar para sempre na minha memória. Decorei os traços do teu rosto, o teu sorriso sereno, o contorno dos teus olhos e a nuance dos teus cabelos. Inspirei profundamente para capturar o teu perfume. Por fim, fechei meus olhos para criar uma imagem sua em minha mente, mas me surpreendi com o som da tua respiração. O efeito que me causou foi de uma paz imensa e a certeza de que naquele instante nada poderia me fazer mais feliz do que ter você ali do meu lado. Mas ao abrir meus olhos percebi que nada disso iria acalentar a dor que eu sentiria depois. Comecei a me sentir ridícula por colecionar tais lembranças, e ainda mais por me apegar a coisas tão pequenas e superficiais. Fechei meus olhos com força e comecei a repetir a mim mesma "você precisa esquecer", e assim adormeci. Ao acordar tudo estava lá, igual a antes, exceto pela dor que fulminava o meu peito. A dor inevitável que chegou mais cedo do que eu previa. Me despedi sem te olhar nos olhos porque tinha medo de não conseguir esconder as lágrimas. Deste momento em diante passei a repetir "você precisa esquecer" como uma prece, e não houve um só dia em que eu deixasse de proferir a minha prece...
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"A ironia é uma nova verdade extraída de uma coleção de verdades contraditórias, e ela deve vir acompanhada de uma risada ou um sorriso, caso contrário ela será uma verdade trágica ou completamente falsa."

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