segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poesia passageira - N.09

WANDERLUST

Meu desejo é ficar sempre com os pés no chão
desde que a terra que faz meu chão seja estrangeira
antes a terra do que eu, estrangeira para mim mesma
longe de casa e perto do sossego de não pertencer
sou a estrangeira de algum lugar por ora estrangeiro
lá longe, lá em casa, chove igual chove no além-mar
chove aqui e chove lá, sempre há água em todo lugar
o rio não tem o sal do meu mar, mas ambos tem água
por isso gosto tando daí quanto daqui, tem água e cinza
dias cinzas com sol e chuva, tem dias só de sol também
em todos os dias tem tudo igual, mas diferente, sempre
tenho lágrimas dissolvidas nas águas da chuva e do rio
eu me dissolvo para me fazer pertencer, só um pouco
de mim fica aqui e aí, lá em casa, em qualquer lugar
só um pouco, um pouco, eu não me deixo muito por aí
eu me dissolvo e chovo para molhar a minha nova terra
onde planto com muito tento as flores do meu jardim
as margaridas, jasmins, açucenas, azaleias, hortênsias
e as rosas, oferecidas em botão ou já desabrochadas.

Paris, outubro de 2011. Numa tarde cinza e dissolvida.

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